( Resenha ) Perguntem a Sarah Gross de João Pinto Coelho @EditoraLeya - Clã dos Livros

( Resenha ) Perguntem a Sarah Gross de João Pinto Coelho @EditoraLeya

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Editora Leya

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Resenha


Perguntem a Sarah Gross, do escritor João Pinto Coelho, é um romance forte, intenso e encantador, que nos permite conhecer e acompanhar a história de duas mulheres que buscam viver com dignidade, vencendo seus tristes segredos.



O livro é dividido em duas narrativas: a primeira começa com a chegada da jovem Kimberly Parker, a nova professora de literatura do Saint Oswald’s na Nova Inglaterra. A segunda descreve a vida da judia Sarah Gross, a então diretora do tradicional colégio, desde sua juventude até a sua vida adulta, nos difíceis anos da Segunda Guerra.
Curiosamente, a imagem mais nítida que guardo de Miss Gross é a que me ficou do primeiro encontro... Vestia de forma simples e o casaco de malha amarelo esbatido era a única peça de roupa que fugia à escala dos cinzentos. O seu cabelo curto, de um branco absoluto, tocava apenas ao de leve a gola de seda bem apertada. Era uma mulher de média estatura, coberta por uma austeridade elegante, um pouco rígida talvez. Quando se virou, senti-me chocada. Teria cerca de cinquenta e poucos anos, seguramente não mais de sessenta, e a beleza do seu rosto fez-me esquecer por momentos as razões da minha presença naquele lugar. Seria pelos olhos profundamente misteriosos e incaracterísticos, cada qual de sua cor, ou, por tudo aquilo que se escondia atrás deles? Há certas manifestações que só aos poetas cabe traduzir.
Através de um texto envolvente,  vamos conhecendo e nos apropriando de momentos marcantes da vida da senhora Sarah que como diretora,  ganha a admiração de Kimberly, por sua postura firme e segura ao lidar com os conflitos que surgem. Sarah é capaz de romper com as barreiras impostas pela sociedade e aceitar um aluno negro, pobre que necessita de uma oportunidade para se desenvolver ainda mais ao ingressar em um colégio tão renomenado como Saint Oswald’s. 

Kimberly precisará se adaptar aos padrões da tradicional colégio inglês e aos seus colegas de trabalho. Mas é Sarah que fascina Kimberly de maneira esplendorosa. É Sarah que abre espaço para que Kimberly sinta-se à vontade, para dividir a sua dor...
Curioso... tinha passado os últimos dezesseis anos a imaginar como seria aquele momento. Com que solenidade, com que palavras se oferece a alguém o pedaço mais absurdo de uma vida... mas já estava e foi assim mesmo: na terceira pessoa, com a fluência de quem lê a história de uma criança. Continuamos a andar. Não faço ideia se a Sarah me olhou, se disse alguma coisa. 
Kimberly está buscando superar a dor de um grande segredo e a oportunidade do novo trabalho traz grandes esperanças para a jovem. Sua estadia no novo colégio será repleta de muitos acontecimentos e surpresas, mas nada se compara a oportunidade que terá de conhecer a história de Sarah Gross e seu envolvimento com Eva, Miranda e, claro, o bibliotecário Clement, um dos personagens de grande importância na trama. 
- Sabe que todos os dias entro na biblioteca ao nascer do sol? É isto que me alimenta – afirmou, ao mesmo tempo que apontava com o rosto para os corredores de prateleiras.— é no meio deles que encontro o sentido para tudo o resto, percebe? – Não, não sei se percebia. Não sei se era capaz de absorver a intensidade com que Clemente se entregara àquilo, mas, confesso, por instantes, invejei-o, já que também eu procurava a minha fortaleza. 
Após um trágico acontecimento, Kimberly se aproximará de Ester, a melhor amiga de Sarah, aquela com quem dividira momentos marcantes nos difíceis anos da Segunda Guerra, quando os alemães transformaram a sua querida cidade na Polônia em Auschwitz, o conjunto de campos de concentração que exterminou milhares de judeus. 
...Sabia o que era viver com dificuldades. Tive sempre de lutar para conseguir alguma coisa. Tomei conta dos meus irmãos, ajudei minha mãe enquanto as outras catraias brincavam na rua, enterrei um pai... Mas nada se podia comparar àquilo. Nada nos preparava para os alemães. Ninguém nos ensinara o que era o medo, ninguém nos dissera como se olha o mundo de baixo para cima. Era como se, de repente, acordássemos num planeta diferente, onde tudo aquilo em que acreditávamos deixava de fazer sentido... Se ao menos pudéssemos adivinhar.
Nas páginas do livro vamos acompanhando a trajetória de Sarah, de sua família e de todo povo judeu, que sofre toda forma de violência e de desrespeito por parte dos nazistas. Impossível não se envolver nas trágicas mudanças vividas pelos seus pais Anna e Herny, e a dor da separação do seu marido Aleck e de seu amado filho Daniel... Assim deparamos com as dores da guerra, as que causam as maiores perdas, as que a acompanharam por toda a vida.

O escritor João Pinto Coelho se engajou de tal forma neste livro, que é impossível parar de lê-lo antes do fim, pois as tramas estão todas entrelaçadas e em certo momento, faz o leitor questionar o porquê do escritor seguir por determinada linha de pensamento, mas nas páginas seguintes tudo se esclarece e ganha sentido. Como se o escritor estivesse vivendo o momento descrito... 

O livro Perguntem a Sarah Gross é tão bom que merece ser lido, compartilhado e multiplicado. Como o próprio escritor diz em seus agradecimentos finais: 
A primeira palavra vai para os vários sobreviventes de Auschwitz que, ao longo de tantas horas, me explicaram como enganaram a morte. Dois deles, Zoha Lyz e Kazimierz Smole, já não estão entre nós, o que nos alerta para uma realidade intransponível: dentro em pouco já não será possível ouvir Auschwitz na primeira pessoa.
Que possamos jamais esquecer, para que não nos tornemos indiferentes e insensíveis a dor do outro. Excelente livro!


Um comentário:

  1. Denise!
    É bem essa asensação que sinto ao ler qualuer livro ambientado na segunda guerra ou que traz protagonistas que foram vítimas de Auschwith, que não devemos ser indiferentes a dor alheia, seja ela qual for, porque deixam marcas profundas.
    Deve ser um livro intenso e gostaria de ler.
    Desejo uma ótima semana!
    “Onde há estudo - há sabedoria.” (Textos Judaicos)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE JUNHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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